A Maldição do Vale Negro
por Caroline Bemfica Bernardes
Escrita em meados dos anos 80 por Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes, a peça tem elementos que a caracteriza como melodrama, contudo estes elementos são tão fortes constantes, que acabam por transformá-la em uma paródia do gênero. Ao invés de emocionar a platéia, acaba por causar risos. A peça corre entorno da história de Rosalinda, uma moça pura e inocente, criada por seu padrinho, o conde, e a governanta do castelo, Agatha. No castelo há uma maldição, a denominada maldição do vale negro, pois, sempre que as águas do vale param, ouvem-se gritos, é um prenúncio de acontecimentos ruins. Rosalinda, a fim de proteger seu padrinho, o qual vem sendo cobrado por Rafael, aceita ceder aos desejos do cobrador e, ainda, manter um romance com ele. Após descobrir-se grávida de Rafael e abandonada pelo moço, conta ao conde seu estado. Ele não aceita e a expulsa de casa. Ao sair, adentra ao cofre da família e encontra um camafeu, o qual possui uma foto de alguém tão parecida com ela que poderia ser sua mãe. Rosalinda vaga sem rumo até que chega a um acampamento de ciganos. Depara-se com um casal de ciganos, Vassilie Jezebel, os quais vendo a foto da mãe de Rosalinda percebem que na verdade, ela nada mais é que filha do cigano Basil e a irmã do conde, Ursúla. Depois da descoberta, voltam ao castelo, a fim de tomar satisfações com o conde. Então, já no castelo, descobrem, rendendo Agatha, que Úrsula não foi morta, está aprisionada no porão do castelo, sem ter mais domínio de sua razão, a qual, aos poucos ela retoma. Vassili e Ursula se reapaixonam. Rafael resolve pedir perdão a Rosalinda e casar-se com ela. O conde descobre que há muito vinha sendo envenenado por Ágatha, a qual visava afastar a todos e herdar o castelo. À beira da morte, confessa seu antigo amor pela cigana Jezebel.
Tanto na montagem dirigida por Luiz Arthur Nunes, quanto na elaborada para o projeto Quartas Dramáticas, os papéis clássicos do melodrama foram mantidos: A mocinha, Rosalinda, ao passo que na primeira montagem citada é completamente inocente, na segunda, revela traços de sedução, de interesse sexual pelo galã Rafael, que, em ambas é o galã, e nada mais. O conde como vilão, assim como Agatha, que rouba a cena do vilão durante toda a peça, graças aos seus trejeitos e caracterização cômicos. Vassilie é o pai que logo se apaixona pela filha, talvez rápido demais, o personagem fica menos convincente ainda na segunda montagem, quando o ator esquece do sotaque castelhano tão bem apresentado por Jezebel. Jezebel é cômica, convence no palco, em ambas as versões, deixando de lado sua tristeza por perder seu amor, que convencia mais como amigo para o antigo amor do cigano, Úrsula. A loucura e perda da razão da mãe de Rosalinda até o momento em que retoma, repentinamente, as rédeas de seu pensamento, é crível, depois, perde toda a credibilidade. Em ambas as montagens o cenário é simples, mas suficiente, pois o texto, os personagens caricatos são capazes de segurar todo o espetáculo, já que o espectador logo percebe que a estória não pretende mesmo recontar a realidade. Apesar dos aspectos psicodélicos iniciais serem completamente dispensáveis, pois não parece conversar com que vem a seguir; a montagem do Quartas Dramáticas torna-se mais interessante que a outra, principalmente em matéria de comicidade, já que se permitiu mais nesta montagem, em especial com a trilha sonora, com ação adotada para as cenas, ou seja, o uso de todo o espaço, não só do espaço e pelo lado um tanto quanto apimentado de Rosalinda, que, eventualmente, deixa de ser aquela mocinha insossa satirizada por Caio Fernando Abreu e Luiz Arthur Nunes.
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