Textocentrismo e a Inquisição
Resenha crítica da leitura cênica da tragédia ANTONIO JOSÉ ou O POETA E A INQUISIÇÀO
Marlus Alvarenga
Logo ao iniciar a peça, dirigida por um dos coordenadores
do Quartas Dramáticas, Professor André Luis Gomes, já podíamos observar a
importância do texto que estava em cena – o palanque “político” que estava em cena para uso dos artistas, carregando o discurso crítico de Antônio José, contracenava com
o microfone clássico das rádio-novelas. Era o início de uma longa encenação,
com conteúdo e temática densos. Essa importância veio de diversas formas: tanto
no conteúdo contextual do drama e o período histórico em que foi escrito quanto do próprio texto cênico, que foi levado a risca, salvo exceções necessárias à
uma montagem de Leitura Cênica. A inquisição no Brasil e uma tentativa de enaltecer o trabalho de artistas de teatro, principalmente da personagem-atriz Mariana – muito bem representada em cena, com emoção e profissionalismo por Sarah Cintra – estavam em cena de forma muito bem construída cenicamente.
Em meio aos delírios de um homem que estava sendo
perseguido por fazer teatro, atitudes dos membros da igreja são postas à prova.
Frei Gil, personagem marcante, mostrava uma postura nociva, que usava de sua
influência político-religiosa para tentar manipular uma situação que desencadearia
na morte dos protagonistas, ao final do enredo.
Na montagem, houve várias tentativas de nos alocar para dentro desse contexto. Havia cordas nos personagens, como uma analogia ao
aprisionamento que o artista vivia naquele período – e por vezes, hoje, ainda
vive. Os discursos traziam força emotiva e a montagem utilizou-se de recursos
sonoros interessantes – e no final, multimídia – para incrementar a densidade
da peça. O aprisionamento de Antônio José às grades do teatro também foi uma
opção que valorizou a cena. Em geral, foi uma montagem que cumpriu com a
dificuldade pré-estabelecida de um texto tenso ( uma tragédia) de um período em que as máscaras
sociais começavam a ruir.
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